12 de novembro de 2009

O Feminino no Poder: Esperança de Equilíbrio no Mundo

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Por Vera Britto*

“CRIAÇÃO DO NÚCLEO DE AÇÃO SETORIAL/ PHS –MULHER”

A criação do NAS/PHS-MULHER nos remete a uma reflexão:

Seria um modelo essencialmente feminino a solução para a doença do mundo e da humanidade?

Acredito que haja uma grande diferença entre os modelos feminino e masculino do exercício do poder, para uma comparação entre os dois modelos, vamos recorrer à imagem dos jogos de tênis e de frescobol: “ O tênis é um jogo feroz. Seu objetivo é derrotar o adversário. E a derrota se revela no erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do adversário e é justamente para aí que vai dirigir sua cartada”. O prazer é pois a derrota do outro. O frescobol se parece com o tênis: dois jogadores , duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, sabe-se que não foi de propósito, e quem a recebe faz o maior esforço para devolvê-la corretamente. não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Ou os dois ganham, ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que se deseja é que ninguém erre.”

O frescobol simboliza o feminino e o tênis, o masculino. Embora, ambos possam ser jogados por homens como por mulheres.

Se a vida é um jogo, esse jogo deve ser bom para todos os que jogam. E é importante que todos, sem exceção, possam jogá-lo.Um jogo que admita a possibilidade de que todos possam ganhar.

Precisamos poder sonhar com um mundo mais justo e menos truculento, no qual o acúmulo de riqueza e poder não seja mais a medida do valor de uma pessoa.É hora, pois, de parar e de repensar o mundo. De que adianta tanto progresso, tanto avanço tecnológico, tanto conforto material, tanta riqueza acumulada, se estamos vazios e infelizes? Se bilhões de pessoas morrem de fome e miséria, ou sobrevivem a duras penas, sem terem atendidas as mínimas condições, que conferem dignidade à vida humana?

A esperança que alimento é a de que quando um grande número de mulheres assumirem as alavancas do comando do planeta, e o fizerem calcadas em valores femininos, crie-se a massa crítica suficiente capaz de mudar o comportamento dos próprios homens e por essa via, mudar o mundo.

Estaremos se guiadas pelos valores tradicionalmente associados ao feminino chegando ao poder mantendo sob controle a agressividade, a competição e a ânsia pelo poder.

Teremos que propor algo novo, uma nova maneira de viver, apoiada, na cooperação, na solidariedade e na generosidade. Considerando, que o mundo é construído a partir de nossas ações cotidianas e que ao transformarmos consciências, transformamos a realidade.

Milhares de anos de patriarcado vieram desembocar em sociedades extremamente competitivas nas quais a busca irracional por dinheiro , prestígio e poder transformou todos nós em rivais e potenciais inimigos. Tal estado de espírito, marca da nossa época, afasta uns dos outros, dificulta a comunicação e as trocas afetivas, gerando um estado de espírito defensivo e de animosidade que latente ou explícito. É fonte permanente de tensão e sofrimento, além de propiciar campo fértil para o desamor, a violência, o desequilíbrio e a loucura reinantes.

No entender de Capra “é uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais, de gravidade e intensidade sem precedentes em toda a história da humanidade”.

A saída da crise somente será possível se lograr-mos mudarmos os valores vigentes na cultura na qual vivemos.

Entendo que o modelo patriarcal, e depois capitalista de dominação e competição, tenham sido etapas necessárias na história humana. Mas urge também reconhecer que, tendo chegado aonde chegamos, há que repensar o papel da competição em nossa vida e a posição do “sucesso” , do poder e do dinheiro na nossa escala de valores. Há que reconhecer que a posse do poder e o seu uso não têm contribuído para o bem-estar dos homens. Não estão eles amando mais ou melhor, vivendo mais tempo, ou tendo mais alegrias, por causa do poder”. Ocorre justamente o contrário. Quanto maiores e mais brilhantes são as vitórias no mundo exterior, mais tende a acentuar-se a angústia interior do ser humano. Mais aferroa- o a pergunta que não quer calar: Qual o sentido disso tudo e dessa vida? A necessidade de mudança no padrão de valores e de comportamento soa, então,como inegável e urgente.

Mas como mudá-los?

As mulheres são maioria na população do planeta, inegavelmente, elas tendem mais à cooperação do que à competição, são mais honestas e menos predispostas à corrupção. Valorizam mais o afeto e as emoções, vivem mais livremente e prezam mais a subjetividade, se preocupam mais com o outro e têm menor necessidade de poder. Sob esta ótica a mudança que é premente, necessária e difícil seria menos demorada. Mais factível, enfim .

Seria o despertar do feminino. E como despertar do feminino entenda-se não só a emancipação da mulher e o seu ingresso cada vez com mais força e visibilidade na vida pública. Entenda-se , também, e talvez principalmente, o retorno dos valores femininos marginalizados por milênios de dominação do homem que, inclusive, marginalizou e exilou o feminino que há dentro dele. mesmo.

Com o retorno e revalorização do feminino é possível pensar um mundo mais doce, terno, menos áspero, com maior respeito à vida e a tudo o que ela significa. E não me refiro somente à vida humana, mais a todas as formas de vida. À natureza enfim. A ocupação dos espaços e a assunção do poder por parte das mulheres, não precisaria se dar em caráter de exclusividade, como ocorre hoje com os homens, mas de forma predominante ou, no mínimo, em pé de igualdade com eles.

As mulheres não são santas, são tão humanas e tão passíveis de falhas de caráter quanto os homens. Mas competem de um modo menos destrutivo, tanto para si mesmas como para a coletividade. A vaidade e a inveja de que padecem são de outra natureza, pouco tendo a ver com as disputas pelo poder. Têm do dinheiro uma visão mais pragmática e saudável que os homens. Para elas o dinheiro é meio e não fim. Meio de ter liberdade e adquirir o que querem e o que precisam e não tão somente um acumular de dinheiro e de bens.

Exercer o poder com sensibilidade e genuína preocupação com o outro depende dos valores que se cultivam, da visão que se tenha da vida e do mundo. Claro que os homens poderão , também, vir a exercer o poder de maneira mais altruísta, cooperativa e menos predatória aí também seria o feminino no poder.

Assim , nesta hora em que estamos prontas a caminhar juntas, constituindo o NAS/PHS- MULHER para buscar espaços na política, devemos estar conscientes de que iremos conviver com o poder e que algum dia estaremos fazendo parte dele.

Que e a nossa alma feminina nos guie para o nosso objetivo maior que é mudar a natureza do poder e a maneira de exercê-lo. E assumindo-o, instalar um regime com valores e formas diferentes dos atuais. caso contrário, seria apenas um patriarcado com sinais trocados. E de nada valeria.

* É militante do Partido Humanista da Solidariedade (Rio de janeiro, RJ) e Presidente Nacional do NAS/PHS Mulher.

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Notas mais antigas:

Nossos valores